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O pensamento técnico e os desafios ocidental e nacional

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Quando se fala em “tecnologia”, ocorrem-nos habitualmente objetos com utilidade prática – computadores, esferográficas… No entanto, aquele termo pode ser usado em outros sentidos. Um destes é o de uma forma de raciocínio – dito mais precisamente, “técnico” – e uma certa constituição dos conceitos como tais. Raciocínios da forma “Se se pretende x , e y é um meio eficaz, acessível e melhor do que as alternativas para se obter x , faça-se y ”. São raciocínios orientados por fins, e regulados por critérios de eficiência e oportunidade. Para o pensamento técnico, ou “instrumental”, que os implementa, conceitos como os que nomeiam aqueles objetos acima, ou hipotenusa, Portugal… não constituem representações de parcelas da realidade, e menos ainda nomes daquilo mesmo que há a considerar como real. Constituem antes ferramentas para a conceção do que se jogará em cada situação problemática, em vista da resolução destas últimas. Servem, pois, para organizar a experiência e orientar a ação. Prof...

2.º quartel do séc. XXI – que significado para “tecnologia”?

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Para orientarmos esta vinda à leitura desta página digital, precisaremos apenas de algum conceito como “computador”. Não precisamos de qualquer conceito englobante, como “tecnologia”. Em cada ação, bastam-nos os conceitos que a orientam com sucesso. Isso não significa que, mesmo em ações com interesses que se não reduzem ao próprio processo (i.e. mesmo em ações com objetivos práticos a atingir), devamos evitar o uso desses termos englobantes. Seguindo o exemplo dado, quando nos encontramos numa ação não como ler alguma página digital ou impressa concreta, mas de providenciar condições para as ações anteriores – ex. a promoção de literacia tecnológica –, facilitará não só a comunicação com os interlocutores, mas mesmo o pensamento prático que nos orienta, assumir um significado vago de “tecnologia” como nome de um conjunto, mal determinado, de coisas que, em cada ato de comunicação, pareça que nós, esses nossos interlocutores e eventuais terceiros admitimos reunir ali. Usamos então o te...

Antiqua et Nova: as inteligências humana e artificial

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A 28 de janeiro passado, a Igreja Católica publicou a Nota referida no título acima . Da autoria de dois Dicastérios, um dos quais, por sinal, tem como Prefeito o Cardeal português Tolentino Mendonça. O documento é rico e sugestivo a diversos títulos, mas, nestas linhas, abordarei apenas a comparação que tece entre o sentido de “inteligência” em relação a algoritmos artificiais (IA), e o sentido desse termo uma vez reportado ao ser humano. Respetivamente, nas secções II e III da Nota. Para apontar que o documento coloca as questões relevantes, mas que as desenvolve noutra pista que não a de uma justificação epistemologicamente legítima para as teses que se assumam. A primeira daquelas secções começa com a definição originária de J. McCarthy, em 1956, da IA como o que quer que faculte a uma máquina comportamentos que, se implementados por seres humanos, são classificados como inteligentes. Não sendo necessário que isso se processe do mesmo modo da inteligência humana. Os dois parágrafos...

Convergência das NBIC (II): “fusão”, “imersão”, “aumentação”

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À entrada desta nova meia década, lançando também o segundo quartel deste século, lembrei aqui a grande conveniência de atendermos às oportunidades e riscos não apenas das nanotecnologias, biotecnologias, tecnologias informáticas e ciências cognitivas (NBIC) isoladas, mas da convergência entre elas. Em cujo processo, como também apontei, estão implicadas instituições minhotas. Nestas linhas agora focarei um dos complexos de questões que se colocam nesse âmbito: em que é que nos constituiremos, que modo de ser humano estaremos a implementar, por um lado, ao utilizarmos as NBIC? E que mundo vivido, por outro lado, estaremos igualmente a implementar assim? É em conformidade às respostas a essas questões que deveremos responder a estas outras: como poderemos lidar com essas novas tecnologias sem alienar a nossa condição humana? Ou esta última é apenas um facto com 300.000 anos, sem valor intrínseco que obste a um avanço decidido rumo ao transhumanismo * ? Aquelas primeiras questões de...

Convergência das NBIC (I): um desafio na nova metade da década

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Depois de mais de 300.000 anos coletando os produtos da Natureza, há cerca de 12.000 anos deixámos de nos ajustar a esta última e passámos a ajustá-la a nós. Correspondentemente, deixámos de viver em pequenos bandos, com relações personalizadas, e criámos grandes sociedades com relações e instituições tendencial ou mesmo assumidamente formais. Até à segunda década deste século, quando firmámos um conjunto de processos sociotécnicos que eventualmente contribuirão para uma nova era nessa história. Em particular, com esta novidade de o Homo Sapiens perder a exclusividade, para algoritmos artificiais e com vantagem destes últimos, de alguns dos procedimentos que nos têm facultado o nosso poder único. No dobrar da metade desta terceira década, com o tempo histórico aparentemente em plena aceleração, dificilmente outro conjunto de questões nos merecerá mais atenção. Na década anterior, refiro-me a acontecimentos como o Prémio Breakthrough de 2015, que distinguiu a tecnologia CRISPR-Cas9. A q...

A reindustrialização e a tecnologia como vontade

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Enquanto ainda se discute o Orçamento do Estado, sobre o financiamento e orientação de uma eventual reindustrialização e desenvolvimento tecnológico do nosso país, concordaremos que ou serão eminentemente comunitários, ou em boa parte nacionais, ou não se realizarão quaisquer dessas inovações que impliquem investimento. Em última análise, porém, a opção sobre esse financiamento e orientação implica uma decisão no âmbito do que um autor já clássico, ainda que numa obra que cumpre agora o número redondo de trinta anos apenas, chamou a “tecnologia como volição”. Uma decisão também salientada, embora de forma mais simplificada, pelos recentes Nobel da economia Daron Acemoglu e Simon Johnson. No plano da modalidade de financiamento, dada a carta pública do nosso Primeiro-ministro à Presidente da Comissão Europeia, a opção portuguesa parece ser a comunitária. Tanto por um aumento das dotações nacionais para o orçamento da UE, quanto pela mutualização de dívida contraída pela Comissão Europ...

De incêndios vários à decisão e prestação de contas

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Desde os incêndios todos os verões até a decisão que demorou 50 anos sobre um novo aeroporto, parece bem termos um problema com as decisões em alternativas da nossa vida coletiva. (Que um dos nossos maiores entretenimentos televisivos sejam os infindáveis e em regra inconsequentes comentários de eventos políticos, é mais um sintoma desta dificuldade). Numa aproximação ao esclarecimento da estrutura desse problema, em particular quando as alternativas se abrem sobre equipamentos públicos, será útil atender a um outro incêndio: o que deflagrou no hospital público da ilha mais povoada dos Açores, São Miguel, em maio passado. A área de implantação desse complexo é tendencialmente retangular. Mas, apesar de o incêndio ter ocorrido apenas na secção onde se encontrava a central elétrica, afastada do centro do conjunto, todos os doentes foram evacuados e os serviços foram suspensos. Por sorte, a iniciativa privada construíra poucos anos antes um hospital de dimensões suficientes para acol...