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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2020

Duas lições políticas da racionalidade tecnológica

A atividade política implementa o raciocínio meios-fins, que também carateriza a prática tecnológica. G.H. von Wright formulou-o assim: se se pretende Y, se X é causa de Y, se X é tecnicamente possível – acrescentemos: se X leva vantagem a eventuais alternativas – faça-se X. Neste mês de campanha eleitoral e consequentes escolhas políticas, vêm a propósito duas lições simples que podemos retirar da racionalidade tecnológica para a prática política. 1ª) A tecnocracia é uma ilusão – Ciclicamente aparecem apelos a um governo composto por técnicos; ou a presunção de políticos de que as respetivas propostas são inquestionáveis por serem fundadas tecnicamente e não em valores. Pretende-se assim que o poder (gr. krátos ) caiba aos técnicos. É não compreender a técnica tal qual esta se faz. Nomeadamente, não compreender como a qualquer função técnica – p. ex. transportar algum líquido – não corresponde uma só estrutura técnica – p. ex. uma garrafa de refrigerante – e vice-versa. Como mui...

W.G. Vincenti, "O que os engenheiros sabem" (1)

Neste mês em que se inicia mais um ano letivo, que espécies de conhecimento desafiam os estudantes e professores de engenharias? E quem diz essas tecnociências, diz gestão de empresas, medicina… até as demonstrações de teoremas a que os matemáticos se dedicam. Nas últimas décadas, provavelmente a resposta mais influente a essa pergunta é a de Walter G. Vincenti (v. fotografia) na obra com o título que importei (em parte) para esta crónica  * . Este engenheiro aeronáutico, historiador e filósofo classificou os referidos conhecimentos em três variantes distribuídas por dois tipos. Uma dessas variantes é a descrição de estados de coisas. Por exemplo, a carga suportada por rebites com um certo diâmetro. Os conhecimentos descritivos são avaliados conforme a correção (ou verdade) das proposições que os explicitam . Podem ser mais ou menos precisos, mas, em qualquer caso, a sua correção depende da adequação deles aos estados de coisas que referem. Não depende dos objetiv...

Inovação, crescimento e sociedade açoriana

As teorias do crescimento económico, depois de lhe reconhecerem como fatores o trabalho e o capital, também reconheceram como tais: as inovações tecnocientífica (R. Solow…), de gestão etc., e as instituições (ex. patentes, direitos de autor) que devem ser elas próprias inovadas de forma a promoverem e protegerem aquela outra inovação em geral (D. North…). No contexto açoriano, este jornal – por cujo aniversário hoje estamos todos (mas primeiro os seus responsáveis e profissionais) de parabéns! – diversas vezes me abriu as suas páginas para abordar inovações tecnológicas, até científicas, e eventualmente institucionais, algumas das quais relevantíssimas para a economia e a sociedade desta ilha e do arquipélago. Foi o caso do complexo pessoal, social, económico e tecnológico que, no fim da primeira metade do séc. XX, potenciou a fileira do leite tal como todos hoje a conhecemos. V. “A modernização da indústria de laticínios em S. Miguel – 1937-1946” , se não me falha a memória, publ...