Neste mês em que se
inicia mais um ano letivo, que espécies de conhecimento desafiam os estudantes
e professores de engenharias? E quem diz essas tecnociências, diz gestão de
empresas, medicina… até as demonstrações de teoremas a que os matemáticos se
dedicam.

Uma dessas variantes é a descrição
de estados de coisas. Por exemplo, a carga suportada por rebites com um certo diâmetro.
Os conhecimentos descritivos são avaliados conforme a correção (ou verdade) das
proposições que os explicitam. Podem ser mais ou menos precisos, mas, em
qualquer caso, a sua correção depende da adequação deles aos estados de coisas
que referem. Não depende dos objetivos, desejos etc. do sujeito de conhecimento
– se um designer ceder ao desejo de poupar nos rebites das asas, é provável que o avião
não “aterre” no sítio e da forma desejados.
Esses ajustamentos aos
interesses do sujeito são feitos porém nos conhecimentos que prescrevem o
modo como as coisas devem ser feitas para que se cumpram os objetivos. Por
exemplo, o design de certos rebites tem variado entre construtores aeronáuticos
segundo as respetivas considerações sobre aerodinâmica, custos etc. Prescrevem-se
assim os procedimentos que devem ser implementados nessas empresas. Em
conformidade, os conhecimentos desta variante são avaliados conforme os graus
de sucesso que facultam no cumprimento dos objetivos propostos. Ou seja, não
são verdadeiros ou falsos, mas sim mais ou menos úteis.
Tal como as descrições de
estados de coisas, as regras práticas que prescrevem procedimentos são explícitas. Mas o design e a produção da tecnologia também
comportam conhecimentos procedimentais não explícitos. Os quais
não se transmitem pela linguagem, apenas se adquirem na experiência. Estes
conhecimentos designam-se “tácitos”. Vincenti reconhece-os nos operários que
executam as rebitagens, ou na redução dos custos desta função por educated
guessing dos engenheiros de produção. Os conhecimentos tácitos são
necessários ainda para certas operacionalizações técnicas, daí a requisição de
um número mínimo de horas de voo aos aviadores, dos estágios aos professores
etc. Como conhecimentos de tipo procedimental, são avaliáveis conforme as
respetivas utilidades.
Em suma, todas essas
atividades requerem conhecimentos tácitos, exclusivamente procedimentais;
conhecimentos descritivos, exclusivamente de tipo explícito; e conhecimentos
prescritivos, que satisfazem ambos os tipos.
Estou em crer que haverá
em Portugal algumas escolas, em quaisquer níveis de ensino, que se comportem
sob a prioridade da obtenção de esses conhecimentos pelo menos ao nível de
exigência normal nas sociedades alemã, britânica, norte-americana, japonesa…
Aos estudantes e professores que tenham a sorte, e naturalmente os méritos
necessários, para trabalhar em quaisquer dessas eventuais escolas desejo um
grande ano letivo!
* Aos académicos mencionados, aqui fica a referência: W.G. Vincenti, What Engineers Know and How They Know It:
Analytical Studies from Aeronautical History, Baltimore: The Johns Hopkins
University Press, 1990.
In Correio dos Açores, 05/09/2020
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