Para orientarmos esta vinda à leitura desta página digital, precisaremos apenas de algum conceito como “computador”. Não precisamos de qualquer conceito englobante, como “tecnologia”. Em cada ação, bastam-nos os conceitos que a orientam com sucesso. Isso não significa que, mesmo em ações com interesses que se não reduzem ao próprio processo (i.e. mesmo em ações com objetivos práticos a atingir), devamos evitar o uso desses termos englobantes. Seguindo o exemplo dado, quando nos encontramos numa ação não como ler alguma página digital ou impressa concreta, mas de providenciar condições para as ações anteriores – ex. a promoção de literacia “tecnológica” –, facilitará não só a comunicação com os interlocutores, mas mesmo o pensamento prático que nos orienta, assumir um significado vago de “tecnologia” como nome de um conjunto, mal determinado, de coisas que, em cada ato de comunicação, pareça que nós, esses nossos interlocutores e eventuais terceiros admitimos reunir ali. Usamos então o ...
Em recente entrevista ao jornal Observador (23/03/2025), Josephine Quinn , autora de O Mundo Criou o Ocidente (Temas e Debates, 2025), sustentou que a conceção de “civilizações culturais separadas” é errada. Refere-se particularmente a um suposto Ocidente, enraizado na civilização Clássica e na tradição judaico-cristã. Julgo que o seu raciocínio, porém, não constitui um argumento, mas sim uma falácia. Aliás, a sequência de duas falácias. Cuja correção nos traz às escolhas que, de uma forma ou de outra, faremos nas próximas eleições legislativas. Se não me perdi ao longo da entrevista, o raciocínio dessa historiadora da Antiguidade (agora na universidade de Cambridge) pode ser resumido na seguinte sequência de proposições: o sentido do conceito de uma tradição coletiva humana, como “Ocidente”, decorre simplesmente da génese ou formação dessa sua referência. As culturas europeias – a que presume se referir originalmente aquele conceito – verificam inúmeros cruzamentos com outras cult...