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Mensagens

A mostrar mensagens de 2015

Os dois porquinhos mais novos e a COP21

Suponhamos os três porquinhos da fábula a lerem o artigo “COP21 Paris climate talks: a beginner’s guide”, do Financial Times (30/11) – um jornal de todo insuspeito de privilegiar quaisquer outros interesses em detrimento dos económicos. Ou melhor, o porquinho mais velho a lê-lo, que os irmãos mais novos logo darão outro uso ao computador! De um lado, aquele porquinho deparar-se-á com a  comunidade internacional a assumir que o clima aqueceu cerca de 1ºC desde o início da Revolução Industrial; que daí decorrem alterações gravosas já em curso; que as emissões de carbono, por atividade humana, são relevantes para esse aquecimento; e que será imprudente aumentar este último acima dos 2ºC. Do outro lado, com os fracassos das COP2 (Kyoto) e COP15 (Copenhaga), o mesmo porquinho reconhecerá a dificuldade de um acordo político ecologicamente suficiente – seja entre os países que enriqueceram graças a tais emissões durante o último século e meio (os quais querem que hoje todos as red...

O sonho da Miss Nova Orleães e uma bioética para o séc. XXI (2)

Na crónica precedente (11/11/2015) lembrei o sonho de certa Miss Nova Orleães de ter um filho com Einstein, na expetativa de juntar a beleza dela e a inteligência deste… Também lembrei a resposta do cientista. E, referindo dois prémios Breakthrough para as ciências da vida, mencionei as transformações da espécie humana que estão ficando ao nosso alcance graças ao poder tecnocientífico das NBIC – nanotecnologias, biotecnologias, informática, e ciências cognitivas (neurociências, inteligência artificial, robótica). Argumentei que o mais sensato será usar esse poder com alguma limitação. Resta saber qual. Foi a propósito desta questão que concluí essa outra crónica introduzindo a atual: “enquanto porém apenas perspetivamos essa revolução das NBIC, temos de lidar hoje com uma outra revolução que parece estar em curso nos próprios alicerces de qualquer resposta ao que temos vindo a tratar”. Da herança moderna… Com efeito, na segunda metade do séc. XX, foram estabelecidas normas ...

O sonho da Miss Nova Orleães e uma bioética para o séc. XXI (1)

Conta-se que, face à aspiração de certa Miss Nova Orleães por um seu filho com Einstein, pela expetativa dela de acrescentar à sua beleza a inteligência do cientista, este, prudentemente (ainda que confessando o apetite pela experiência!), lembrou a possibilidade de a criança sair antes ao pai na beleza, e à mãe na inteligência. A cautela percebe-se, pois, à época, a tecnologia de seleção artificial na evolução das espécies ainda não tinha progredido substancialmente desde a revolução neolítica. A saber, a escolha dos animais reprodutores e de sementes, as técnicas de enxerto de plantas… estendidas recentemente ao transporte de sémen e à fecundação artificial. Todas essas técnicas facilitavam a transmissão de umas informações em detrimento de outras. Mas a informação disponível era sempre a que a natureza facultasse. Hoje, 12.000 anos depois do início do Neolítico, uma nova revolução se afigura vir quebrar essa limitação. E uma revolução de outra natureza ainda se afigura vir enq...

Arruda Furtado: os primórdios do darwinismo (biológico e humano) em Portugal

              Nestas semanas de lazer, uma rica sugestão de leitura – tão portuguesa quanto internacional, e, no âmbito social e humano, bem atual! – é a de Charles Darwin, juntamente com John Dalton Hooker (botânico evolucionista, amigo de Darwin), o lamarckista Edmond Perrier, e mais sete dezenas de vultos científicos europeus e americanos da época. Entre os quais Gustave Le Bon, um dos primeiros cientistas sociais a aplicar o paradigma da seleção natural.             Além de que basta um tablet ou equivalente, e algum sítio com acesso à rede, para podermos navegar pela correspondência  que todas aquelas pessoas quiseram manter, e assim valorizaram e no-lo sugerem, com Francisco de Arruda Furtado.             Pela minha parte navegarei – com a casualidade própria de uma leitura de férias – pela extensão do paradigma darwiniano desde a ma...

V. Machado Faria e Maia: A modernização da indústria de laticínios em São Miguel – 1937-1946

1 (in: Com. Reg. Cer. Arq. Aç. , Nº 7)   Com base no longo artigo, publicado em duas partes em 1947/48, de Victor Machado Faria e Maia [i] , à data intendente de pecuária do distrito de Ponta Delgada, podemos isolar o período entre 1937 e 1946 como os anos decisivos para o crescimento da fileira do leite em São Miguel, até esta rapidamente assumir a primazia socioeconómica regional. Aquele primeiro ano, por ser o da reunião de agosto na Junta Geral do distrito, com a proposta de uma modalidade de construção e exploração de uma moderna fábrica de laticínios. O segundo ano, pelo apetrechamento final dessa fábrica, começada a construir em 1942, mas noutra modalidade que não a inicialmente prevista e desejada; e pelo "ultimato" aos restantes industriais locais feito pela Direcção Geral dos Serviços Pecuários. O parágrafo seguinte (1) apresenta resumidamente a exposição do referido intendente de pecuária. Para na sua base analisarmos depois as movimentações no setor em S. ...