9:41 min. de Don Ihde (2015): conceitos fundamentais da pós-fenomenologia - mediação entre o ser humano e o mundo pela tecnologia

A par de John Dewey, Don Ihde porventura será o filósofo da tecnologia cuja obra, do séc. XX, mais deverá ser explorada e desenvolvida no séc. XXI. No caso de D. Ihde, contando com os desenvolvimentos por P.-P. Verbeek, S. Dorrestijn etc. (No caso de Dewey, v. desenvolvimento por L. Hickman)
Poucas obras dos últimos séculos serão tão relevantes como essas para a compreensão e orientação da civilização da indústria 4.0, porventura visando uma sociedade 5.0.


Entrevista concedida para a UNOCHAPECÓ em 21/04/2015



IAED - aprender sobre a IA, para a IA, com a IA


0. A Inteligência Artificial


A IA define-se pela capacidade de interagir com o mundo "através de capacidades e comportamentos que consideramos fundamentalmente humanos".

Atualmente, a IA encontra-se de novo em rápido desenvolvimento.

A IA compreende: i) Sistemas baseados em regras ou IA simbólica, ii) Algoritmos estatísticos, e iii) Aprendizagem de máquina. Esta última compreende: a) Aprendizagem supervisionada, b) Aprendizagem não supervisionada, e c) Redes neuronais artificiais.

Limites atuais da IA: i) não é compreensiva, i.e. cada sistema dedica-se a um tipo de tarefas; ii) os tipos de dados relevantes para cada caso são escolhidos por seres humanos; iii) a rotulação dos dados obtidos, i.e. interpretação do seu significado, é feita por seres humanos; iv) os algoritmos são concebidos por seres humanos; v) assim como o treino desses algoritmos; e vi) assim como a avaliação dos resultados.

"Inteligência Artificial" antes como inteligência aumentada (augmented) - cf. tecnologias de Augmented Reality (AR)



Inteligência Artificial em Portugal: Chegámos ao futuro?

Conferência FFMS, 11/02/2021



1. IA em contexto educativo (IAED)


Uma educação para o séc. XXI - na base da reflexão crítica sobre a transição da educação do séc. XX (qual é o propósito da educação escolar em geral? O que é importante aprender para o futuro próximo?...): informações e compreensão especializadas (expertise); versatilidade; relevância; interdisciplinaridade e integração no meio; transferência dos conhecimentos.

desenvolvimento humano de conhecimentos, de competências, do carácter e de meta-aprendizagem, e a utilização de IAForças e fraquezas da mente humana e da IA - questões da IAED para um equilíbrio entre seres humanos e máquinas 



Aprender com a IA - compreende as relações i) dos estudantes com a IA (Sistemas Inteligentes de Tutoria, apoio à aprendizagem colaborativa, avaliação contínua sumativa ou formativa, assistência prática etc.); ii) dos professores com a IA (a desenvolver!); e iii) do sistema escolar (administração) com a IA

Aprender sobre a IA - o que esta significa, como funciona. Ensinar os estudantes, treinar futuros engenheiros/programadores, treinar futuros gestores

Aprender para a IA - reconhecer o impacto que a IA está a ter e perspetivar o futuro próximo - aprender a viver com a IA


v. Artificial Intelligence in Education: Challenges and Opportunities for Sustainable Development, UNESCO, Education Sector, 2019





2. Aprender sobre para a IA - 5 grandes ideias na IAED


AI4K12 (IA para a escolaridade até ao 12º ano): A IA i) percebe (atribui significados) na base de informações obtidas por sensores; ii) representa o mundo (faz mapas) e raciocina até tomar decisões; iii) aprende a partir de dados; iv) interage no mundo; v) e tem impacto na sociedade.


i) Perceção - conceitos fundamentais: sentidos humanos vs. sensores dos computadores / do uso de sensores à perceção / diferentes tipos de perceção (visão, reconhecimento de voz etc.) / funcionamento da perceção por algoritmos / limitações à perceção computacional / máquinas inteligentes vs. máquinas não inteligentes (fonte: DGE / NAU, "A IA vai transformar a Escola? (2ª ed.), 4.1)


ii) Representação e raciocínio - conceitos fundamentais: tipos de representações / tipos de algoritmos de raciocínio / relações entre representações e raciocínios (as 1ªs apoiam os 2ºs, os 2ºs funcionam com base nas 1ªs) / famílias de algoritmos e tipos de trabalho que realizam / limitações dos algoritmos face ao raciocínio comum (idem)


iii) Aprendizagem - conceitos fundamentais: significado de "aprendizagem" / diferentes abordagens à Aprendizagem Automática (Aprendizagem de Máquina) / tipos de algoritmos de aprendizagem / aspetos fundamentais das redes neuronais / diferentes tipos de arquitetura das redes neuronais / modo como o treino de dados pode influenciar a aprendizagem / limitações à Aprendizagem Automática (idem)

Sobre tipos de algoritmos de Aprendizagem de Máquina, v. Pedro Domingos, O Algoritmo Mestre



iv) Interação natural - conceitos fundamentais: compreensão da linguagem natural / computação afetiva / raciocínio ao nível do senso comum / consciência e mente (v. filosofia da) / aplicações da interação natural / interação humano-robô / limitações da IA na realização das interações naturais (idem)





v) Impacto social

- Que aplicações de IA serão permissíveis? - questões éticas:  transparência e responsabilização dos sistemas de IA / diferentes definições de "justeza" / tradeoffs de valores, p. ex. privacidade vs. segurança. Que funções e efeitos sociais da IA são previsíveis? - robôs com funções de servidores, salvadores e de companhia / perturbação económica, alterações no trabalho / discriminações não intencionais

- Conceitos fundamentais: tecnologias de IA estão a mudar os negócios, a saúde, a educação, a governação / uso da IA como impulsionador económico para o aparecimento de novos serviços e tornar negócios mais efetivos / os seres humanos tomam decisões técnicas e éticas ao desenvolverem aplicações de IA / as tecnologias de IA impactam comunidades e pessoas de modos diferentes / criação de standards éticos para os sistemas de IA que tomam decisões sobre pessoas / IA e robótica irão criar e eliminar empregos, e mudar o modo como as pessoas trabalham (idem)



IA e IV Revolução Industrial (indústria 4.0)


IA e sociedade 5.0



3. Aprender com a IA


O prazer da aprendizagem evolui numa curva em "U"-invertido, entre a máxima familiaridade / tédio e a completa estranheza / aversão.

A IA personaliza a aprendizagem, ajustando as tarefas ao estudante e ao seu momento. Serve particularmente: i) a memorização de factos, de padrões de comportamento, ao longo do percurso de aprendizagem (Rote Learning) - os algoritmos apresentam revisões espaçadamente; ii) a aprendizagem ativa - questionários, exercícios práticos etc. 


Recursos para aprender sobre a IA, utilizando (aprendendo com) a IA



Implicações e enviesamentos gerais em IA - Ética!

v. Correio da UNESCO, nº 3 (2018), pp. 3, 31...

Ética na IAED, sobre: recolha de dados & desenho dos algoritmos e aplicação destes & analítica crítica do ensino e aprendizagens


Tecnologia “imersiva” – O futuro do retalho (e não só) começou em maio

Há pouco mais de um mês, a notícia da inauguração do Continente Labs ocupou páginas interiores dos jornais. Mas as consequências de inovações como essa passarão rápida e diversificadamente para as primeiras páginas.

Tecnologias "imersivas"

Como o nome indica, essa loja da Sonae MC constitui um laboratório. Nele se testa uma tecnologia que o filósofo Peter-Paul Verbeek (fotografia) designa “imersiva”: não apenas constitui parte do contexto da existência e ação humanas – como os sistemas tradicionais de ar condicionado etc. – mas tem iniciativa numa sua interação connosco.

Assim, no supermercado Continente Labs, não existem caixas de pagamento e respetivos funcionários. Uma vez que cada cliente descarregue no seu smartphone a devida aplicação, esta máquina entra em comunicação com o sistema autónomo da loja, o qual conjuga a informação recebida por centenas de câmaras e sensores de prateleira, e cobra o crédito dos bens recolhidos pelo cliente na conta bancária que este último terá associado à aplicação. Ou seja, os sistemas bancário, de telecomunicações e da loja de retalho comunicam autonomamente entre si, e realizam a operação de pagamento que corresponde à ação humana – então apenas a da escolha e transporte dos bens.
Nesse laboratório, a reposição dos produtos ainda é feita por agentes humanos. Mas já existem robôs capazes de desempenhar esta tarefa. Tal como existem robôs sociais capazes de circular em quaisquer instalações prestando informações ou fazendo sugestões em dezenas de línguas. E outros que poderão acompanhar pessoas na rua, mantendo conversas enquanto transportam compras etc.
As reações imediatas a notícias como essa visam habitualmente as consequências das tecnologias autónomas no emprego, ou nas relações de cidadania e poder político. Mas comecemos por atender ao que nelas nos é mais íntimo.

A mediação da tecnologia imersiva

Verbeek distingue essa imersividade como um dos modos pelos quais a tecnologia medeia a relação entre o mundo e o ser humano. Como Don Ihde e outros pensadores tinham enfatizado, essa mediação não é passiva. Antes, os dois polos da relação são de cada vez modalizados pelo tipo de mediação tecnológica. Ou seja, a primeira condição determinante dessa tríade encontra-se no termo intermédio, o tecnológico, ao qual se ajustam os dois extremos.
De um lado, o mundo, mediado imersivamente, deixa de se constituir como alheio às intenções de cada agente humano. Utensílios e elementos da Natureza deixam de evoluir simplesmente segundo os respetivos processos físico-químicos ou biológicos. Aliás, o mundo deixa de se fragmentar por todos esses inúmeros e heterogéneos elementos. Quanto mais o modelo do Continente Labs se difundir, mais o mundo se disporá em função dos interesses humanos. Ou melhor: em função dos interesses reconhecidos pelos algoritmos de aprendizagem autónoma (não necessariamente apenas dos seres humanos). O mundo evoluirá assim também segundo esta sua própria aprendizagem. E, nessa disposição de inúmeros sistemas particulares em ordem a um conjunto de interesses, o mundo tenderá a constituir-se, enfim, como uma composição una.
Quanto ao outro polo da mediação, com Louis e Mary Leakey temos chamado “humano”, não apenas na espécie Sapiens mas desde a espécie Habilis, àqueles entes capazes de produzir intencionalmente artefactos úteis, entre os quais ferramentas para produzir outros artefactos, e de os utilizar com proveito. Dessa utilização, porém, somos progressivamente dispensados por tecnologias como esta produzida pela Sensei para a Sonae MC.
E o desenvolvimento dessas tecnologias, na medida em que as empresas produtoras usem nesse processo IA com aprendizagem autónoma, há de ser ainda significativo sobre o papel que nos restará na produção e inovação de artefactos – até na escolha de listas de música ambiente em lojas autónomas, e já mesmo na composição dessas músicas!

“Humana” – por enquanto (?) – resta, e urge, a escolha de como serão implementadas tecnologias como esta.



in Gaia Semanário, 30/06/2021

O pensamento técnico e o desafio português

Quando se fala em “tecnologia”, ocorrem-nos habitualmente objetos com utilidade prática – computadores, esferográficas… No entanto, aquele t...