Fui ver O Mal Não Está Aqui , de Ryusuke Hamaguchi (2023), por uma pequena sucessão de coincidências mais a boa memória de um outro filme do mesmo realizador. As críticas são díspares. Mas, desde as suas primeiras cenas, me ocorreram passagens do diagnóstico e da terapia que Albert Borgmann propôs da nossa cultura e sociedade tão mediadas tecnologicamente. E assistir ao filme do realizador japonês, em diálogo com este filósofo (falecido fez agora um ano) de nascimento alemão mas adotivo do e adotado pelo Estado norte-americano de Montana, mais do que premiou a aposta. Designadamente, a cena, demorada, da recolha de água num riacho, agachando-se a pessoa junto a um pequeno desnível onde a água recém-degelada corre límpida, para a apanhar da poça num potezinho, com o cuidado de não levantar impurezas do fundo. Aos elementos desses contextos na floresta ou na cidade, bem como aos utensílios usados – ex. potes –, Borgmann chama “coisas” (ing. things ). Com as quais a pessoa se relaciona in...
"By taking up technologies, humans left the non-technological Garden to inherit the Earth" - Don Ihde, Technology and the Lifeworld, 1990, p. 14