No recente Fórum Regional da Qualificação Profissional, o Secretário
Regional Duarte Freitas (na fotografia) relevou “os desafios da indústria agro-alimentar e ainda a digitalização e a
economia azul, áreas com grande potencial de desenvolvimento nos Açores” (C.A., 19/11/2021). Entretanto,
no país e na região, finalmente se acordou para a iminente falta de professores.
Um denominador comum entre uma solução desta carência – não só pela
substituição de docentes, também pela dignificação das funções que então lhes
serão próprias – e aquela digitalização na indústria etc., será o tratamento da
Inteligência Artificial na educação escolar (IAED).
Nomeadamente, em três dimensões: aprender sobre a IA, aprender para
a IA, e aprender com a IA. A primeira dimensão introduzirá as outras duas, mas
desenvolver-se-á com estas.
Nos EUA, o programa AI4k12 (IA para o ensino básico e secundário) contempla
5 ideias sobre IA que todos os alunos devem conhecer: i) perceção
(sentidos humanos vs. sensores artificiais etc.); ii) representação e
raciocínio (relação entre umas e outros etc.); iii) aprendizagem (em
particular a automática ou aprendizagem de máquina vs. aprendizagem humana); iv)
interação (natural vs. interação humano-robô etc.); e v) impacto social
(funções e impactos previsíveis da IA, questões éticas etc.). No grau
(praticamente) zero em que nos encontramos nesta matéria, esse programa poderá
servir-nos ao menos como hipótese orientadora.
Globalmente, sobre a IA, caberá começar por identificá-la em diversos
sistemas em curso – desde a seleção dos conteúdos apresentados em cada página
pessoal de redes sociais, aos algoritmos que estão a decidir os investimentos
financeiros das poupanças de cada família, a gerir o tráfego de diversos
sistemas de transportes, a enquadrar quando não mesmo orientar diagnósticos
médicos etc. E importa distinguir os níveis de IA, nomeadamente entre meros algoritmos
estatísticos e sistemas capazes de aprendizagem.
Adquirindo esses conhecimentos que previsivelmente serão necessários para a
integração profissional, social, política e mesmo cultural no mundo da 4ª
Revolução Industrial, os alunos estarão a aprender para a IA.
Precisamente sobre as expectativas de especialistas em relação ao impacto
destas tecnologias no futuro… de 2025 (!), vejam-se os resultados obtidos pelo Pew
Research Center e pelo Imagining the Internet Center, sintetizados nesta coluna
em “Desafios e oportunidades dos novos ‘loucos anos 20’”.
Enfim, sendo a IA uma tecnologia, o respetivo conhecimento é eminentemente
prático – implicando descrições teóricas e prescrições cognitivas. Pelo que
dificilmente será adquirido, se é que o pode, à revelia de uma aprendizagem com
a IA. Voltando ao referido programa americano, esta aprendizagem não se reduz
ao autoensino dos estudantes. O qual se verifica mediante diversos programas
digitais quer de memorização quer de autotestagem (aprendizagem ativa), nas
ciências naturais, sociais, matemática, nas humanidades e até nas artes. Inclui
ainda, no ensino secundário e mesmo no 3º ciclo do básico, a operacionalização
de plataformas online como a TensorFlow Playground, para programação de redes
neurais com aprendizagem automática.
O grau sequer de identificação destes nomes pela generalidade dos atuais
alunos açorianos e portugueses do 12º ano dos cursos científico-humanísticos será
um índice da nossa preparação para a segunda metade desta década.
in Correio dos Açores, 05/12/2021