Todavia, mais interessantes do que essas estimativas, são as identificações dos processos em curso. Pois daí ressalta o que hoje (!) devemos fazer para que precisamente, já pelo meio desta década e nos tempos seguintes, sejamos dos winners e não dos losers – em que os primeiros 86% daqueles inquiridos concordam em dividir a população à saída da pandemia.
Entre
as mudanças que estão a emergir rapidamente, os peritos reconhecem: a
crescente procura de dispositivos de telecomunicações, aquisição de plataformas
digitais… cuja utilização condicionará progressivamente diversas interações
humanas. Numa generalização do teletrabalho, ensino à distância, telemedicina,
e-commerce etc. Esta interconexão digital amplifica ou maximiza tanto ações de
solidariedade e inclusão, quanto as de discriminação e ostracismo.
Entre
as preocupações, destacam-se: o aumento da desigualdade das condições e
segurança de vida entre os capazes de usar os acima referidos sistemas
digitalizados, e quem se mantém limitado às relações presenciais. Cibercrime,
ciberterrorismo… e aumento das quebras de privacidade e do autoritarismo, num
pecado por excesso das respostas governamentais àqueles riscos digitais. Crescente exigência
das competências profissionais adequadas ao uso da automação e da Inteligência
Artificial, com a exclusão laboral dos que não as desenvolverem. Probabilidade
de maior controlo sobre teletrabalhadores, que serão crescentemente precários,
dado o alargamento do universo dos contratáveis para esses postos de trabalho. Diminuição
da racionalidade nas decisões coletivas, e da coesão social, pelo aumento da
desinformação digital. Aumento de doenças mentais pela digitalização crescente
da vida social.
Em
troca, há esperanças de que: o recrudescimento de movimentos
públicos a favor da justiça social e económica limite e mobilize os ocupantes
dos órgãos políticos. O bem-estar global se possa sobrepor assim aos interesses
imediatistas, locais ou privados. Com a digitalização de muitas relações, melhorem
as condições do transporte físico, com menos poluição, e aumentem as oportunidades
de diversos deficientes. Aumente também o acompanhamento e conforto de pessoas
carenciadas, mediante tecnologias de realidade virtual ou aumentada, com
capacidade de aprendizagem e domínio da linguagem natural. Sistemas artificiais
inteligentes aprenderão a lidar melhor com futuras crises, nomeadamente
pandémicas.
Faz
agora 100 anos que o mundo então moderno, à saída de uma pandemia, assumiu definitivamente a II Revolução
Industrial e a vida urbanizada cosmopolita após o colapso do velho séc. XIX na I Guerra
Mundial, e acelerou nos então “loucos anos 20”. Dos quais divergiram os
caminhos dos winners e dos losers nas duas, ou mesmo nas seis
décadas seguintes. A história nunca se repete. Mas às vezes assemelha-se. À entrada da IV Revolução Industrial, convém atender àquele aviso.
enviado para: Correio dos Açores, 01/05/2021