O porquinho mais velho, com urgência!

  1.  

    Uma nota particularEm época de discussão dos orçamentos regional e do Estado, é agora que mais se impõe responder à ameaça deixada pelrota do Ophelia. Ao facto de 6 dos 10 verões portugueses mais quentes desde 1931 serem deste século (IPMA). Em cuja segunda metade o aquecimento global médio poderá colocar o pesqueiro de Ponta Delgada onde agora é a avenida marginal (Climate Central) 

No próximo mês faz dois anos que, na minha série de crónicas no Correio dos Açores sobre ciência, tecnologia e sociedade, publiquei “Os dois porquinhos mais novos e a COP21”. Como não corro o risco de alguém se lembrar dessa crónica (até o Ophelia subitamente rumar a norte creio que também nunca mais me tinha lembrado dela), regresso aqui ao porquinho mais velho da fábula e a uma sua leitura dos sucessivos relatórios do IPCC, e do artigo do Financial Times (30/11/2015) de introdução à Conferência do Clima de Paris. 

Esse jornal inglês, que não costuma ser propriamente acusado de ambientalismos cegos a quaisquer interesses económicos, traçava duas linhas que vêm convergindo num desastre anunciado: de um lado, o reconhecimento pela esmagadora maioria dos climatologistas da aceleração de alterações climáticas adversas, com responsabilidade humana. Do outro lado, o relativo fracasso das COP de Kyoto e de Copenhaga não prenunciava nada de bom sobre a probabilidade de um acordo eficaz (à época, além dos Simpsons, ninguém adivinhava ainda que Donald Trump pudesse ser o próximo presidente dos EUA). 

Nos Açores – se os climatologistas do Intergovernmental Panel on Climate Changes da ONU falharem apenas tantas vezes quanto, por exemplo, os seus colegas da Organização Mundial de Saúde relativamente aos benefícios das vacinas, etc.  os anos vindouros deverão, pois, ser em média mais secos e quentes, com mais tempestades e mais violentas. 

Perante a possibilidade de num próximo outubro, antes de ir matar pessoas na Irlanda, algum furacão passar 180km. a oeste do trajeto do Opheliapergunto-me então se os nossos deputados na Horta estarão sendo porquinho mais velho, ou porquinhos mais novos, na dotação orçamental para reforço de estruturas públicas, da segurança civil, para o abastecimento de água às explorações agrícolas em verões secos… 

  1. Uma nota geral: Em época de discussão do orçamento do Estado, passei os olhos (apesar de aqui tentar resistir, confesso que algum fastio político não me deixou mais que isso) sobre o parágrafo “Estratégia orçamental”, em contabilidade nacional, da Análise da UTAO ao OE2018. 

E comecei por me sentir logo menos mal, pois, porquinho mais novo dos três, serão apenas os eleitores do BE. E os do PCP. E os do PS que ainda não perceberam que menos e piores serviços públicos, pelas cativações orçamentais, são apenas uma certa outra forma de fazer austeridade – aquela que mais fere quem, com um aumento médio real de 0,6% dos salários (2016), continua a não ter dinheiro para comprar serviços privados. 

A mim não parece justo, mas do mal o menos. Pois os representantes dos primeiros e dos segundos eleitores acima referidos, enquanto com uma mão os excitavam antes com promessas de saída do euro, de renegociação unilateral da dívida… com a outra, agora, continuam a sustentar o respeito pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento traçado por quem, através do BCE, nos aguenta os juros. Que isso de jangadas de pedra à deriva rumo à Venezuela são boas mas em romances, fora destes queremos continuar a comer três vezes ao dia.  os representantes dos eleitores socialistas são simples e transparentesdepois da semana a seguir às últimas legislativas, sabemos que farão apenas tudo o que for preciso para se aguentarem no poleiro. Menos mal. 

E só não digo “Até bonzinho” porque, entre o desmiolado porquinho mais novo e o prudente mais velho, há o bem-intencionado mas insuficiente porquinho do meio. Aquele que se põe a caminho, mas nunca chega lá. Exatamente o que se teme na Análise da UTAO: “as medidas de política orçamental apresentadas no relatório da Proposta do OE/2018 (…) podem vir a ser consideradas insuficientes” (p. 23)… 

Mas esperemos que esses técnicos estejam enganados. E que os nossos governantes e seus apoiantes do BE e PCP, embora sem o mérito de terem contribuído para a grande variação positiva de 5,8% da evolução do PIB entre 2012 e 2015, desde o crescimento negativo de 4% ao crescimento de +1,8%, não dificultem a variaçãozinha de 0,7%, ou de 0,4%, entre 1,5% em 2016 e 2,2% ou 1.9% previstos para 2018 (gráfico 1). 


in "Coluna Liberal", Diário dos Açores, 10/11/2017

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